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Pix é monitorado pelos Estados Unidos desde 2022.

- Silvana Nadir Garcia Machado MTE - 103/MS
- 19/07/2025
Por: Assessoria
Há três anos, o
Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, do inglês) já
revelava, em um documento oficial, que o país estava preocupado com os impactos
da popularização da plataforma brasileira de pagamentos instantâneos, em uso
desde novembro de 2020.
“Os Estados Unidos estão
monitorando de perto os desenvolvimentos relacionados ao mercado de pagamentos
eletrônicos de varejo no Brasil para garantir que o Banco Central [BC] brasileiro
facilite condições equitativas para todos os participantes do mercado, dado o
papel duplo do BC como regulador e operador do Pix, um serviço de pagamento de
varejo em tempo real”, apontou o USTR em seu relatório anual sobre as
perspectivas das exportações.
No documento, o USTR tece
comentários sobre o que classifica como “barreiras comerciais estrangeiras” com
o potencial de afetar as exportações, os investimentos e o comércio eletrônico
dos EUA com 63 nações, incluindo o Brasil, mais o Reino Unido.
A edição de 2022 do
relatório foi a primeira – e única – a mencionar nominalmente o Pix, embora
documentos posteriores tenham voltado a mencionar o sistema financeiro brasileiro.
O USTR é uma agência
federal que integra o gabinete executivo da presidência dos EUA. Responsável
pelo desenvolvimento e coordenação da política de comércio internacional, o
escritório tornou público, nesta quinta-feira (16), que instaurou uma investigação
para apurar, entre outras ações comerciais brasileiras, o estímulo
governamental ao uso do Pix.
Segundo o principal
dirigente do USTR, Jamieson Greer, a investigação foi solicitada pelo próprio
presidente Donald Trump para apurar “os ataques do Brasil às empresas de mídia
social americanas, bem como outras práticas comerciais desleais que prejudicam
empresas, trabalhadores, agricultores e inovações tecnológicas” dos Estados
Unidos.
Concorrência
Conforme a Agência Brasil
noticiou, analistas avaliam que as críticas do governo dos Estados Unidos podem
ser explicadas pela concorrência que o sistema de pagamento eletrônico
brasileiro, público e gratuito, faz aos serviços oferecidos por operadoras de
cartão de crédito tradicionais e ao Whatsapp Pay, chegando mesmo a tornar-se
uma alternativa ao dólar em algumas transações internacionais.
De acordo com o Banco
Central, só no ano passado, o Pix movimentou cerca de R$ 26,4 trilhões.
“O Brasil desenvolveu uma
forma de meio de pagamento que oferece uma série de vantagens. O Pix é ágil,
promoveu um processo de bancarização, de inclusão de pessoas que não tinham
conta. E faz parte da lei de competência e de concorrência oferecer um produto
cada vez melhor”, afirmou a economista Cristina Helena Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em entrevista à
Agência Brasil.
Um dos possíveis motivos
para a reação tardia de Donald Trump é a possibilidade das autoridades
estadunidenses entenderem que, ao lançar o Pix, em 2020, o Banco Central teria
prejudicado os planos de negócios da Meta, empresa que pertence ao empresário
Mark Zuckerberg, aliado de Trump, e que anunciou, em junho do mesmo ano, o
lançamento da funcionalidade Whatsapp Pay no Brasil.
Na época, a Meta anunciou
que os brasileiros seriam os primeiros usuários do WhatsApp a poder enviar e
receber dinheiro utilizando cartões de crédito pré-cadastrados no aplicativo.
Uma semana depois do
anúncio, o BC e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
suspenderam a função, com a justificativa de que seria necessário avaliar riscos
da operação, potenciais riscos para a concorrência e garantir funcionamento
adequado do Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB).
“O WhatsApp criou uma
forma de transferência de dinheiro de pessoas para pessoas, mas estava fazendo
isso fora do sistema financeiro legal. Não estava fazendo com integração com o
nosso sistema financeiro. Portanto, escapava da regulação do Banco Central, o
que fere regras brasileiras de acompanhamento de transações monetárias”,
acrescentou Cristina Helena, avaliando que a medida que o BC adotou à época foi
correta.
A Agência Brasil
consultou o Banco Central e o Ministério das Relações Exteriores sobre as
menções do USTR ao Pix e ao setor financeiro brasileiro, mas não teve retorno
até o momento.
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